Sem dúvida, a pregação e
o ensino são ferramentas de sustentação e crescimento da obra de Deus. Na
pregação temos o alcance de todos, desde o pecador sem Cristo ao crente firme
na fé. Essa é uma atividade indispensável que ficou registrada pelo evangelista
Marcos como ordem de Jesus, “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o
evangelho a toda criatura.” (Marcos 16.15). Paralelo a pregação está o ensino
que deve ser dispensado a todos os convertidos, desde os primeiros dias como
leite, e, posteriormente, como alimento sólido, para o crescimento e
fortalecimento dos servos do Senhor. As palavras de Jesus nos trazem essa
obrigação, em Mateus 28.18-20 “E, chegando-se
Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto
ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos
tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos
séculos. Amém.”
Embora
seja difícil estabelecer a pregação ou o ensino, uma ou outra como prioritária,
porque a exortação está inserida nas atividades do culto, as duas devem ser
praticadas, conforme Atos 13.15 “E,
depois da lição da Lei e dos Profetas, lhes mandaram dizer os principais da
sinagoga: Varões irmãos, se tendes alguma palavra de consolação para o povo,
falai.” Neste sentido, ao comentar sobre 1 Timóteo 4.13 “Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá”, Guthrie, delimita com firmeza ao
afirmar que:
“A
prática da igreja era igual à sinagoga: a leitura das Escrituras era seguida de
uma exortação (paraklesis) baseada na leitura, mas no culto cristão havia um
lugar especial reservado para o ensino (didaskalia), que consistia em instrução
nas grandes verdades da fé cristã.” (Guthrie, 2020), p. 103
Certamente, esta
definição tem uma implicância na circunstância explícita na carta de Paulo a
Timóteo, haja vista os diversos falsos mestres presentes em Éfeso. O Apóstolo
Paulo não queria deixar nada sem orientação, com o amor no seu coração de
Pastor e a prontidão de um servo, ele deseja que Timóteo comunicasse todo o
conselho de Deus e ensinasse o povo com disciplina e constância, na verdade
central das doutrinas da Palavra de Deus.
A
exegese textual nos obriga a ver o termo original conforme mencionado por
Guthrie, acima, didaskalia que se
traduz pela arte de ensinar com sentido de alerta e admoestação, sob a tutela
de um mestre habilidoso na Palavra e na doutrina, da mesma forma que os textos
a seguir: Romanos 15.4; 2 Timóteo 3.16; 1 Coríntios 10.11; Romanos 12.7; 1
Timóteo 4.13,16; 5.17; Tito 2.7.
Uma grande tarefa
do pastor é a pregação da Palavra de Deus. Todas as demais atividades são
consequência desta obrigação que transforma vidas. A Palavra é a ferramenta de
atividade evangelística, é o pão para saciar a alma, e o remédio para curar as
feridas, é a bússola que indica o caminho para Deus, é o manual do ministro. O
apóstolo Paulo exorta a Timóteo que “Pregue a
palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte
com toda a paciência e doutrina”. (2 Timóteo 4.2 - NVI). O esforço do
ministro em estar preparado é semelhante de um soldado em combate. Há momentos
em que parece desfalecer as mãos, mas a necessidade de prontidão com pronta
perícia o impele a continuar buscando aperfeiçoamento.
A mensagem o pregador é somente uma, o evangelho. A recomendação do
próprio Senhor Jesus é esta: “E disse-lhes: Ide por todo o
mundo e pregai o evangelho a toda criatura.” (Marco 16.15 – ACF). O
evangelho é as boas-novas que a humanidade necessita para sua salvação. O Pastor
fiel ao Senhor cumprirá sua ordem e pregará o evangelho com fidelidade. Paulo
disse: “Ai de mim, se não pregar o evangelho.”
Em outro texto ele diz: “O que recebi do Senhor vos
ensinei.” Pior do que não pregar é distorcer o evangelho
de Cristo e mercadejar com ele, esquecer-se que dele dependerá o destino
eterno dos homens.
Depois do encontro com Ananias, pregar foi o primeiro
trabalho de Paulo registrado nas Escrituras: “Logo começou a pregar nas
sinagogas que Jesus é o Filho de Deus” (At 9.20). O próprio Paulo afirmou que,
desde o ventre de sua mãe, foi separado e escolhido por Deus para “por sua
graça [...] revelar o seu Filho em mim para que eu o anunciasse entre os
gentios” (Gl 1.15,16). Em 1 Coríntios 1.11 a, Paulo também destacou a
importância da pregação em sua vida: “Pois Cristo não me enviou para batizar,
mas para pregar o evangelho”. Mais que essencial, pregar o evangelho tornou-se
para o apóstolo uma atividade indispensável para o trabalho do Reino, uma vez
que a fé vem pelo ouvir a pregação da Palavra (v. Rm 10.17). Era isso o que
Paulo fazia, pregava a palavra da fé (v. Rm 10.8), e ouvi-la era o que as
pessoas precisavam para crer (v. Rm 10.14,15). (REGA, 2009, 245, 246)
A exigência de
Paulo a Timóteo foi que pregue a Palavra, não sobre a Palavra, mas a própria
Palavra. Paulo sabia, como está em aos Hebreus 4.12, que “a Palavra é viva e
eficaz... apta para discernir os pensamentos e intenções dos corações.” A
Palavra de Deus não precisa de arranjo, ela cumprirá os seus desígnios e
esclarecerá os corações dos ouvintes. É interessante notar que quando Jesus fala
com Pedro em João 21.15-17 e faz-lhe três perguntas sempre se Pedro “o ama”,
após a resposta do discípulo ele dá a instrução para que apascente o rebanho do
Senhor. Isto deixa claro que apascentar é um ato de amor.
A palavra deve ser
ministrada sem rodeios, porque através do ensino é que se produzirá o
crescimento do corpo de Cristo e o amadurecimento das pessoas. Quando o Senhor
deu dons ministeriais a igreja, conforme registrado em Efésios 4.11, tinha um
plano de crescimento do corpo de Cristo. Os versículos seguintes são
proveitosos para orientar ao objetivo de crescimento e aperfeiçoamento dos
Santos para a obra do ministério, com a finalidade de não serem mais meninos
inconstantes. Em suma, nada pode substituir a palavra de Deus. Nós, pastores,
fomos chamados para apascentar o rebanho do Senhor, esse povo é a igreja do
Deus vivo, não podemos contentar com meninos levado pelo engano de homens que
com astúcia enganam fraudulosamente por falta de ouvir um evangelho genuíno,
uma mensagem sadia, de pregadores sóbrios.
O apóstolo Paulo
recomenda a Tito que “fale só o que convém a sã doutrina.” (Tito 2.1). A mensagem da palavra de Deus deve ser
prioridade na Igreja do Senhor, o ensino deve alcançar todas as pessoas. Por
isso, Paulo se preocupa com a continuidade do ensino e recomenda a Timóteo a
ensinar o que aprendeu com ele, e confiar essa mesma responsabilidade a outros
homens fiéis, também idôneos, para que também ensine a outros. (2 Timóteo 2.2) “E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a
homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros.”
Nisto, está claro que as
mesmas artimanhas mostradas pelo maligno no Jardim do Éden, tentando distorcer
a doutrina, o ensino, para que os filhos de Deus desobedeçam ao seu criador, se
repetiu neste período inicial da Igreja, conforme adverte Paulo na sua segunda
carta aos Coríntios, “Entretanto, receio
que, assim como a serpente enganou Eva com sua astúcia, também a vossa mente
seja de alguma forma seduzida e se afaste da sincera e pura devoção a Cristo. ” (I Co. 11.3). Como disse o apóstolo expondo a sua própria
vida e coração de pastor, sobre o temor do ataque maligno, ele e os demais
apóstolos, bem como os pais da Igreja e os pais apostólicos tiveram papel
fundamental na defesa da fé, no combate aos desvios doutrinários, na
transcrição e transmissão correta da sã doutrina, como um corredor que passa o
bastão à frente, ao outro competidor, para que siga avante no mesmo propósito,
para que se conquiste os mesmos objetivos, para que seja a vitória final de
todos.
É a partir disto que o
apóstolo Paulo escreve ao seu filho na fé Timóteo, que "toda a Escritura
divinamente inspirada é útil para ensinar, para redarguir, para corrigir, para
instruir em justiça," (II Tm. 3.16). Logo, quando se apresenta a Escritura
Sagrada, tudo é atividade teológica e importante para a vida cristã, como Paulo
falou aos romanos, citando a importância do Antigo Testamento, de que "tudo que dantes foi
escrito para o nosso ensino foi escrito," (Rm. 15.4), aos Coríntios ele diz que
"todas as coisas que estão escritas, foram registradas para
aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos" (I Co. 10.11), e
aos Efésios quando aponta o fundamento da Igreja, "edificados sobre o
fundamento dos apóstolos e dos profetas, e que Jesus Cristo é a principal pedra
da esquina" (Ef. 2.20).
A Bíblia recomenda
a observar e a combater o falso ensino, com um ensino sadio e vigoroso da
Palavra de Deus, conforme a seguir:
- 2 Coríntios
2.14-17 devemos ministrar com integridade, sendo o bom cheiro de Cristo, tendo
cheiro de vida para os que se salva e cheiro de morte para os que se perdem,
mas nunca falsificar da palavra;
- 2 Coríntios 4.1,
2, estar no ministério é um ato de misericórdia, portanto não devemos andar com
astúcia, nem falsificar a palavra;
- 2 Coríntios 11. 2-4, 13, precisamos zelar da
igreja com o zelo de Deus, não, então para que as pessoas não sejam enganadas,
devemos pregar a Jesus de maneira simples, evitando que sejam levados pelo
engano da serpente e forasteiros pregam com engodo, transfigurados em
mensageiros de Deus.
- 2 Timóteo 3.5,
6, temos que tomar todo cuidado com aqueles que se apresentam com toda
aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Não os deixe falar. Convém
tapara a boca, amordaçar. A responsabilidade da Palavra é nossa, pastores.
- Mateus 23.14,
cuidado com aqueles que vem com pretexto de longas orações a fim de se
apresentar confiado e desencaminhar famílias inteiras.
- 2 Pedro 2. 1-3,
cuidado com os falsos mestres, falsos doutores, aqueles trazem encobertamente
heresias de perdição, blasfemam do caminho da verdade e quer fazer negócio de
vós com palavras fingidas. Não permita pastor.
- Judas 4, cuidado
com aqueles que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Jesus
Cristo.
- Judas 8,
desvie-se daqueles que rejeitam as autoridades sobre eles, e falam mal dos seus
líderes.
- Judas 12,
cuidado com aqueles que apascentam a si mesmo e não ao rebanho.
- Judas 16-19
cuidado com os murmuradores, escarnecedores, e divisores, porque eles não têm o
Espírito.
- 2 João 9-11,
cuidado com os que não permanecem na doutrina de Cristo e vem ter convosco. Não
devem ser recebidos, nem para saudação.
- 1 Timóteo 6.
3-5, cuidado com aqueles que estão ensinando outra doutrina, não conforme a
piedade, não trazem a doutrina do Senhor, portanto não deve fazer parte de
nosso ciclo de ministro de Deus.
O tema estudo poderia encontrar no Novo Testamento várias palavras para
indicar líderes de vários tipos. Por exemplo, a palavra grega presbyteroi
é traduzida por “anciães” ou “presbíteros”, e todos esses termos apontaria um
entendimento sobre as qualificações e exigências do Ministério Pastoral, no
entanto, devido a singularidade deste trabalho, as definições supra são
suficientes ao entendimento da ampla supervisão exigida do pastor que está
associada com inúmeras responsabilidades para realizar tarefas específicas
(Atos 6:1-4), principalmente a Oração e a Pregação e Ensino da Palavra de Deus.
Em suma, diante do
exposto fica evidente que o exercício da atividade pastoral não é tarefa fácil.
Além disso, a necessária liderança requer vida ilibada de
um caráter íntegro aliada a conhecimento e experiência para o bom manejo e
desempenho diante das sagradas letras com responsabilidades sobre o destino
eterno das pessoas, tendo sobre elas cuidados especiais porque este mundo é mal
e tenebroso. Que Deus nos ajude a sermos
fiéis ao chamado!
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada, Edição Revista e
Corrigida. 64ª Impressão, Rio de Janeiro, Imprensa Bíblica Brasileira, 1987.
BÍBLIA King James 1611, notas de Holman, Edição Revisada,
Niterói, BV BOOKS EDITORA/by Holman Bible Publishers, 2018
GUTHRIE, Donald., 1 e 2 Timóteo e Tito – Introdução e
Comentário. 1ª ed. – tradução Redondo, Márcio Loureiro, São Paulo, Série Cultura
Bíblica – Vida Nova, 2020.
REGA, Lourenço Stelio. Paulo e
sua teologia / organizador Lourenço Stelio Rega. — 2. ed. — São Paulo: Editora
Vida, 2009.