quinta-feira, 7 de maio de 2020

Amas-me? Apascenta as minhas ovelhas

S. João 21.17 (Disse-lhe a terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito a terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas).

Cuidei de muitas ovelhas quando era menino. Se bem que naquela fase da vida tudo era mais fácil. O meu rebanho era bem selecionado entre os frutos de maxixe¹. Os carneiros tinham chifres feitos de espinhos de laranjeira que atravessavam o corpo do legume de baixo para cima. A excrescência dura na parte inferior servia de patas e a pontiaguda na superior, de perigosas armas àqueles animais de que cuidava.
Já naquele tempo havia desentendimento no convívio entre eles. As brigas eram, possivelmente, catárticas² e comprovadamente inocentes. Mesmo assim, eu estava lá, metido na questão à procura de apaziguar os ânimos e preservar as vidas. Aquelas questões me exigiam muito cuidado no trato e sutil habilidade para desfazer as intrigas. Eu era apenas uma criança e tudo era brincadeira, mas a minha alma era como de um pastor.
Às vezes me encontro recordando aqueles momentos, e nada escapa do meu pensamento, relembro de mamãe me chamando para o almoço: “Filho, deixa um pouco os brinquedos e vem comer com a gente”. Eu obedecia de imediato, afinal o meu corpo pedia isso também, mas todo meu sentimento e emoção queriam permanecer cuidando do rebanho. Eu estava na mesa apenas com o corpo. A alma, definitivamente, era de pastor, estava lá em meio ao rebanho. 
Algum tempo depois, em situação escolar, particularmente no que diz respeito ao ensino da teologia pastoral, reconheci no desdobramento das articulações entre as práticas sociais e os objetos escolares, conceitos exegéticos relativos às atividades do guardador de rebanho. E o exemplo prático de que precisava fora me apresentado na pessoa do Rei Davi, que partiu da casa do pai a cuidar de ovelhas em meio aos ursos e leões e sabe lá quais outras espécies de animais perigosos. O desdobramento da sua história é motivador. Venceu as feras, matou um leão pegando-o pela barba para deixar com vida as ovelhas. E, quando viu desafiado Israel, o rebanho do Senhor, por um dos maiores guerreiro daquela época, o temível Golias, não desfaleceu, viu no gigante um incircunciso, e fez menção do nome do Senhor dos Exércitos, o sumo-pastor. Assim derrotou-o e tirou o opróbrio da nação israelita. 
Diante deste quadro histórico, o sentido da hermenêutica sagrada, quase que imediatamente, leva-nos ao domínio das ferramentas necessárias para a prática das ações, instigando-nos a responder à interrogativa do mestre: “Amas-me? Apascenta as minhas ovelhas”. Apascentar é um ato de amor. Quem ama ao Senhor serve a ele com inteireza de alma. O apóstolo Pedro depois de responder três vezes ao Senhor - eu te amo -, escreve uma carta por meio da qual orienta aos presbíteros³ que apascentem ao rebanho do Senhor, tendo cuidado deles, não por força, mas voluntariamente, nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto, nem como tendo domínio sobre eles, mas servindo de exemplo.
Pela terceira vez Jesus pergunta: Amas-me? Eu respondo como Pedro, um pouco triste: _ Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. E Ele insiste: “Apascenta as minhas ovelhas”. Triste sim, porque sinto faltar-me à espontaneidade para a exposição prática de cuidar do rebanho. Afinal, quando era menino não percebia que o rebanho de maxixes corria o risco de cair na mão de mercenários com desejos mercantilistas como acontece hoje. Líderes heréticos que oferecem pastos sintéticos para atrair as ovelhas, enganando-as pelas aparências. E, depois de congregá-las, fazem transações comerciais usando delas.
Apesar de tudo, a minha tristeza é também meu sossego, porque o Senhor sabe tudo. O Senhor sabe que eu o amo. 

¹planta rasteira, família da Cucurbitácea, como as abóboras, pepino, melão e melancia. Os frutos são ovalados, com casca espinhosa ou lisa, de cor verde clara.
² relativo à catarse, isto é, à sensação de purificação ou alívio.
³anciãos e pastores.

terça-feira, 7 de abril de 2020

O AZEITE DA VIÚVA


II Reis 4.1-7 (Tua serva não tem nada em casa, senão uma botija de azeite).

O texto de II Reis 4.1-7 narra à história de uma mulher que perdeu seu marido e herdou dívidas. A vida é assim, sempre nos apresenta surpresas, a maioria delas agradável, outras, porém,  nem tanto, mas de todas podemos absorver experiências que enriquecerão nossa caminhada como servos de Deus.
Essa viúva vai à procura de Eliseu clamando: “Meu marido, teu aluno, morreu; e tu sabes que o teu servo temia ao Senhor. E vieram os credores a levar os meus dois filhos para serem servos.” Clamar é o mesmo que falar gritando e chorando num total desespero.
A situação indubitavelmente era de aflição extrema. Perder o marido e recebeu como herança dívidas, a sensação do desprovimento era desesperadora. Aliás, naquela época (por volta dos anos 850 a.C.) os filhos eram considerados como bens transferíveis, serviam, portanto, para resgatar dívidas. Os pobres, de modo geral, não tinham outro recurso para pagar seus débitos, então vendiam seus filhos como escravos.
Uma família que levava uma vida aparentemente estável teve sua paz afetada pelo infortúnio da morte. Não obstante a tristeza da separação de um ente querido, os credores impenitentes querem receber as dívidas de compromissos assumidos pelo falecido. A viúva desprovida de recursos deparou com situações que necrosaram e aviltaram o relacionamento harmonioso de sua casa. No ditame popular, ela chegou ao fim da linha, ao fundo do poço. Necessitava urgentemente de um socorro, de uma mão amiga, de uma orientação segura e confiável que pudesse redirecionar suas ações. Por isso, ela foi ao encontro do homem de Deus, Eliseu.
Apesar de todas as evidências contrárias que experimentou aquela viúva, Eliseu não buscou soluções imediatas e sem propósitos, que visassem apenas dispensar a necessitada. Ele poderia ter saldado a dívida da mulher e a despedido, mas teria inibido, assim, o milagre de Deus naquela casa. No entanto, o homem de Deus a interroga para entender melhor a gravidade da situação: “O que a senhora tem de alimento em casa?” “Não tenho nada, senão uma botija de azeite”, respondeu ela.
Eliseu anteviu nessa garrafa o milagre de Deus, então, mandou que ela fosse aos seus vizinhos e emprestasse muitos vasos vazios, o quanto conseguisse, depois que entrasse em sua casa e fechasse a porta sobre si e seus filhos e enchesse os vasos com o azeite que ela tinha. Assim ela fez. E, enquanto tinha vasos vazios, havia azeite, porém terminando-se os vasos o azeite parou. Aqui observamos como o homem de Deus testou o relacionamento desta mulher com seus vizinhos, sua autoridade sobre seus filhos e o Senhor Deus operou maravilha naquele lar, trouxe solução de paz e devolveu a alegria.
Acabando ela de encher as vasilhas, correu ao homem de Deus para lhe contar o milagre que havia acontecido. Então, ele mandou-lhe que vendesse o azeite, com o dinheiro pagasse a dívida e vivesse do resto. Outra lição nos transmite este servo Senhor, a de que devemos continuar trabalhando.
Oh que grande exemplo me dá o homem de Deus! Apesar de a situação ser de total desprovimento e desespero, ele não trouxe resposta de satisfação passageira, apresentou uma solução duradoura, mostrando o quanto o homem é dependente do milagre de Deus. Oh que grande lição me dá esta viúva! Ainda que tivesse perdido seu esposo e estava sofrendo com os credores, não se esqueceu que o nosso socorro vem do Senhor que fez os céus e a terra. Assim, ela foi obediente à voz do homem de Deus e recebeu o milagre em sua casa.
Ah, quem me dera um coração generoso e sensível como o de Eliseu, desvencilhado de preconceitos, capaz de encontrar soluções para os mais marginalizados e ensiná-los a permanecer confiante no amor de Cristo, influenciar positivamente as pessoas, produzir nelas higidez espiritual e sobriedade, deixar de pregar aos ouvidos somente e passar a pregar aos olhos também, viver um cristianismo autêntico. Ah quem me dera estar sempre comprometido com o sagrado pela entrega individual ao Senhor ao ponto de contemplar o milagre divino na casa de viúvas, órfãos, desempregados, doentes e necessitados.

sexta-feira, 20 de março de 2020

Como vencer a ansiedade?

I Pedro 5.7 (Lançando sobre ele toda vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós).


         A ansiedade é um malefício cada vez mais comum na sociedade brasileira, sobretudo com o advento de situações preocupantes que trazem aquela sensação de receio e de apreensão. Ela é a porta de entrada para a depressão. É óbvio que, diante de um quadro estarrecedor, como o que vivemos em 2020, por mais estruturado que seja o povo, certamente, muitos serão afetados pela nocividade circundante na qual está inserida sua comunidade. 
            Os dias hodiernos, considerados como a Era da Informação, vão se caracterizando pela consternação das pessoas causada pelas frequentes exigências do nosso dia a dia. O homem inserido no contexto do mundo pós-moderno tem valorizado consecução de objetivos e metas imediatas, mas o resultado frustrante gera nele amargura na alma. 
       Essa agonia vem escravizando as pessoas, geralmente, inseridas num cotidiano mais competitivo e exigente e, por isso, mais violento e cruel, tirando delas a alegria de viver. E, agora, diante de situações instáveis na economia e, principalmente, na saúde pública têm afetado diretamente paz de espírito em cada indivíduo. Daí espera-se que cada um deles tenha a correta postura, o ato sensitivo e a complacências a fim de se construir um sentido linear igualitário entre as pessoas. Isso também aumenta a ansiedade. 
           Charles Swindoll escrevendo sobre perseverança afirmou que não há diferença entre pessoas: “Estômagos reviram. Úlceras sangram. Corações se partem. Nervos entram em colapso. Mentes arrebentam. Alguns desistem. A maioria segura firme e tenta ir em frente.” 
         Mas como superar a ansiedade, ou seja, aquela sensação de receio e de apreensão, haja vista a panela de pressão que o mundo se tornou, pela competitividade e pela cobrança de um desempenho de alto nível de cada ser humano, em meio ao caos social e calamidade pública pelo avanço de epidemias ameaçadoras? A resposta está nas Escrituras Sagradas. O Salmo 37 permite construir um referencial para se viver além da ansiedade: primeiro, confiar em Deus, compreendendo que tudo está em suas mãos e nada fugirá a seus propósitos eternos; segundo, deleitar-se também no Senhor, aproveitando sua graça infinita; terceiro, entregar o caminho a ele, pois conduzirá no rumo certo pelo seu infinito amor por nós; e quarto, descansar nele, porque sempre cumprirá suas promessas em nossas vidas. 
         A caracterização da superação da ansiedade se realiza de modo simples que é estar em Deus. Esta ressalva implica, necessariamente, que o amigo leitor deva ter interesse pelo código de conduta do cristão, a Bíblia, ou fará parte de um sistema informacional manipulado para ponto de interesse de cada um, gerando aflição de espírito. Então, lance sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós, I João 5.7.

A ansiedade tem solução

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

O EVANGELHO DE JESUS CRISTO


 Mc 16.15 (Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura).

A pregação do evangelho é uma missão nobre, mas longe de ser uma tarefa de execução fácil. A fidalguia está em poder transmitir as boas novas recebidas diretamente de Jesus Cristo, porém a dificuldade se estabeleceu no relapso dos mensageiros que transmitem um evangelho qualquer e não o evangelho de Cristo Jesus.
Evangelho se traduz por transmissão de boas novas, a grande notícia, nasceu o SALVADOR, que é Cristo, o SENHOR. Uma mensagem verdadeira, digna de crédito. No entanto, o que está ocorrendo hoje é que muitos estão pregando um evangelho recheado das palavras de Jesus, mas não estão pregando a Palavra de Jesus, nem a Jesus Cristo, SALVADOR e SENHOR.
Pregai o evangelho. O artigo definido ‘o’ pressupõe que não é qualquer relato de boas notícias, mas o evangelho de Jesus Cristo. Isso torna tudo diferente porque o evangelho de Jesus transforma a vida do ser humano que o recebe. 
Observando a carta do apóstolo Paulo aos efésios 2.1-10, percebemos a condição do homem sem Deus e a transformação que o evangelho opera em sua vida. Primeiro, o evangelho anula o passado sem destruir a vida pregressa. Antes de receber as boas novas a situação do homem era deplorável. Estava morto em delitos e pecados, era escravo, seguindo o curso deste mundo, considerado por natureza filho da ira, obedecendo ao príncipe das potestades demoníacas, seguindo o espírito da desobediência e a vontade da carne e dos pensamentos.
Segundo, o evangelho dá vida e paz no presente. A afirmação bíblica garante: Deus que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou; estando nós mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo, pela graça sois salvos, e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar em lugares celestiais em Cristo Jesus.
Terceiro, o evangelho nos assegura a vida eterna com Deus. Assim está escrito: Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça, pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus; porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.
Um evangelho que não opera transformação no indivíduo que o recebe não pode ser aceito. Ai de mim, disse Paulo, se não pregar o evangelho. Noutra referência Paulo diz: O que recebi do Senhor vos ensinei. Pior do que não pregar é distorcer o evangelho de Cristo e mercadejar com ele, esquecer-se que dele dependerá o destino eterno dos homens.
Uma mensagem gerada na mente do pregador só atingirá a mente do ouvinte, mas a gerada no coração de Deus atinge o coração do ouvinte. Só assim poderemos repetir as palavras deste apóstolo de Cristo: Não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Jesus é a melhor notícia que podemos receber. Ele é Salvador, perdoa e garante vida eterna ao homem; e ele é Senhor, devemos viver em obediência a sua Palavra, como está escrito em Apocalipse 2.10, seja fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Que mensagem boa! Isso é o evangelho. Pregue, irmão, o evangelho.